No último trimestre de 2024, participei de três eventos que discutiram o futuro da diversidade e inclusão (D&I). Em 30 de Outubro ocorreu o "Tendências Globais de Diversidade" na B3, onde debatemos os desafios e retrocessos que a pauta enfrenta, conhecidos como backlash. É um momento crucial para refletir sobre os avanços no Brasil e o que ainda precisa ser feito.
Brasil e EUA: Contextos Diferentes
O primeiro ponto importante é entender que o Brasil não é os Estados Unidos. Embora os EUA tenham sido palco de movimentos importantes como o #MeToo e o Black Lives Matter, nossa realidade demográfica e social é única. Enquanto os Estados Unidos têm cerca de 13% da população composta por pessoas negras, o Brasil é o segundo maior país em população negra no mundo, atrás apenas da Nigéria.
Isso impacta diretamente nossas políticas públicas. Aqui, estamos avançando com iniciativas como:
Lei Emprega Mais Mulheres, focada no combate ao assédio e na promoção da equidade de gênero.
Lei de Igualdade Salarial, cujo segundo relatório, divulgado em setembro, revelou que as disparidades persistem, especialmente para mulheres negras, que ganham cerca de 50% menos que homens brancos.
Política de Cotas, recentemente renovada, como uma ação concreta de reparação histórica.
Esses avanços demonstram que o Brasil está assumindo uma posição de vanguarda no cenário internacional. No entanto, precisamos de abordagens que considerem nossas especificidades culturais e estruturais.
Diversidade: Um Alvo em Movimento
A diversidade é um tema em constante evolução. Um dos erros mais frequentes é adotar uma postura combativa nas redes sociais, o que muitas vezes leva ao silêncio e à estagnação. Em vez disso, é essencial envolver aqueles que ainda não se sentem parte dessa luta, transformando-os em aliados.
Mudanças estruturais como as que estamos vivendo geram inevitavelmente resistência. No evento da B3, foi compartilhado que, em 2017, havia cerca de 5.000 profissionais com cargos relacionados à diversidade e inclusão. Em 2023, esse número saltou para 250.000. Isso mostra que o tema passou a ser parte do dia a dia das organizações.
D&I: Um Imperativo Moral e Estratégico
Assim como a inovação, a D&I está se tornando transversal dentro das empresas. No entanto, a “onda” gerada pelos movimentos internacionais muitas vezes resultou em iniciativas superficiais. Agora, mais do que nunca, precisamos aprofundar essa pauta.
Diversidade e inclusão não são apenas uma vantagem competitiva, mas um imperativo moral. Investir em D&I é investir no futuro das organizações e na construção de um mundo mais justo e equitativo.
O Caminho Adiante
Superar o backlash exige persistência e comprometimento. Precisamos transformar a diversidade e inclusão em pilares fundamentais da cultura organizacional, garantindo que essas iniciativas sejam permanentes e eficazes.
As conquistas que tivemos até aqui não podem parar. O futuro depende de nossa capacidade de avançar juntos, construindo um ambiente onde todos tenham as mesmas oportunidades.
E você, como tem contribuído para essa transformação?
Por Gisele Müller. Fundadora da Éssi Consultoria e especialista no tema de Diversidade, Equidade & Inclusão nas organizações.