Agosto lilás e o mês da visibilidade lésbica
- Talita Sousa
- 6 de ago.
- 4 min de leitura

Em agosto de 1996 acontecia no Rio de Janeiro o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE) junto a diversas manifestações construídas por grupos e coletivas de mulheres ativistas pelos Direitos Humanos e mais especificamente, ativistas do movimento de mulheres lésbicas lutando por políticas públicas de enfrentamento à lesbofobia e qualquer outro tipo de violência, por direitos e pela visibilidade de mulheres que amam outras mulheres. O evento teve à frente o Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (COLERJ) com o tema “Visibilidade, Saúde e Organização”, entre outras organizações e ativistas. Desde então, no dia 29 de agosto marca-se o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.

E não para por aí, no mesmo mês temos outra data importante de luta: 19 de agosto, Dia do Orgulho Lésbico - marcado por um grande protesto que aconteceu na cidade de São Paulo na década de 80, no Ferro's Bar, conhecido como "Stonewall Brasileiro". As manifestações aconteceram diante da violência sofrida por uma das integrantes do coletivo GALF (Grupo de Ação Lésbico Feminista), Rosely Roth.
A ativista foi impedida de entrar no bar, espaço que era um ponto de encontro famoso para a comunidade LGBT+ pois recebia jornalistas, artistas e diversas reuniões de grupos de militantes à época. Diante de tal situação, Rosely e outras colegas de luta se organizaram contra essa censura, pois além de ter sua entrada barrada também proibiram no espaço a circulação e venda de um dos mais importantes jornais, o "Chana com Chana" - trabalho desenvolvido por mulheres lésbicas e feministas pensado e produzido pelo GALF, com conteúdos informativos e teóricos que discutiam sexualidade, resistência, política, feminismo, entre outras diversas pautas importantes para toda a comunidade.
Movimentado, né? Além dos marcos importantes para a comunidade de mulheres lésbicas e população LGBTQIAPN+ como um todo, o mês de agosto ainda reserva outra agenda extremamente importante para todas as pessoas. Institucionalizado em 2022, batizado de "Agosto Lilás", em referência ao aniversário da Lei 11.340, que leva o nome de Maria da Penha, acontecem diversas ações em todo território brasileiro reforçando a importância do combate à violência contra a mulher. Maria da Penha Maia Fernandes é uma grande ativista pelos direitos humanos que lutou incessantemente para que seu agressor fosse responsabilizado e condenado pelos crimes e violências que cometeu contra ela. Fundadora do Instituto Maria da Penha, Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará, liderança importante de movimentos de mulheres pelo combate à violência, é uma grande referência de ativismo e resistência.
Alguns Dados
LesboCenso: das respondentes, 78,6% afirmaram já terem sofrido lesbofobia, 77% afirmaram conhecer alguém que sofreu violência por ser lésbica/ sapatão; quando perguntado a respeito das violências sofridas, 31,3% relata assédio moral, 21% assédio sexual e 18% violência psicológica; além de identificado que 75% dos agentes de violência são pessoas conhecidas.
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2025: Em 2024 ao menos 4 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil - Foram 1492 mulheres mortas por serem mulheres, o maior índice desde 2015* (lembrando que esses números são subnotificados por diversas motivações como medo, falta de suporte, etc).
*Ano em que o Brasil promulgava uma lei que incorporava a noção de que a violência de gênero é um fenômeno estrutural e de que mulheres são mortas por serem mulheres (Lei n. 13.104/2015). Esse tipo de crime ganhou o nome de feminicídio, que é diferente do homicídio comum por considerar o contexto de discriminação, dominação e violação de direitos que marca as relações de gênero. Pela legislação brasileira, o feminicídio está configurado quando a morte de uma mulher ocorre no contexto de violência doméstica e familiar (inciso I) ou em razão do menosprezo ou discriminação à condição de mulher (inciso II). Ou seja, não se trata apenas de um crime contra a vida, mas de um crime com motivação baseada em gênero.
São muitas as mulheres importantes para o desenvolvimento do nosso país. Importante reforçar que, apesar das datas concentradas no mês de agosto, a luta e o combate à violência contra as mulheres, contra as mulheres lésbicas e contra qualquer outra pessoa e/ ou grupo minorizado deve acontecer cotidianamente. Te convido a refletir sobre suas ações diárias, sobre as pessoas que você tem por perto e as referências que você tem e acompanha em sua vida. Façamos desse, um movimento diário pela dignidade humana.
Algumas dicas e recomendações:
Visibilidade Lésbica:
"Irmã Outsider", Audre Lorde [livro]
"Diversidade e Inclusão e suas Dimensões - Vol. 3", Cap. 27 - "Mulheres negras, lésbicas e de axé: Identidades presentes e resistentes no mundo" por Benilda Brito e Talita Sousa [livro]
"Sapatonas negras: Potências em movimento", Raíla de Melo Alves [livro]
Bom dia, Obvious - EP 306 com Camila Marins: #306/ mulheres que amam mulheres, com Camila Marins [podcast]
Revista Brejeiras: Revista Brejeiras (@revistabrejeiras) • Fotos e vídeos do Instagram [Instagram e revista]
Agosto Lilás - Combate à Violência Contra as Mulheres:
Anuário Brasileiro de Segurança Pública Anuário Brasileiro de Segurança Pública - Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Estudos Lab Think Olga: Home - Lab ThinkOlga
Pesquisa de Equidade de Gênero e Trabalho no Brasil 2024 - Éssi Consultoria: Pesquisa de Equidade de Gênero e Trabalho no Brasil

Por Talita Sousa. Mulher negra, cisgênero, sapatona e de candomblé. Bacharel em Ciências e Humanidades pela Universidade Federal do ABC, graduanda em Políticas Públicas pela mesma Universidade, pesquisadora e colaboradora da Éssi Consultoria.